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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007


O desbunde total do ex-núcleo duro do Planalto

No primeiro mandato do presidente Lula, eles foram os personagens mais poderosos da República. Juntos, formaram o núcleo duro do Palácio do Planalto, numa versão lulista da expressão noyau dur, usada nos meios acadêmicos franceses. Hoje, os ex-ministros José Dirceu, Antônio Palocci e Luiz Gushiken mudaram de cenário. Afastados do governo, atuam em outro palco. Dão conselhos e prestam serviços a grandes grupos empresariais. Ganharam tanto destaque que são apontados como o núcleo duro da consultoria brasileira. A informação é da revista IstoÉ Dinheiro desta semana.

José Dirceu desistiu de desmentir que é consultor do bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Embratel e homem mais rico do mundo. Gushiken, atuante entre os fundos de pensão, mantém os clientes em sigilo absoluto. Admite que faz consultoria e ponto final. Antônio Palocci, cada dia mais discreto, torce o nariz para os comentários sobre seus movimentos a favor de interesses empresariais. Mas, no início do ano, consultou a Comissão de Ética Pública e se considerou liberado para acumular a função de parlamentar com a de consultor financeiro. Como nada impede que faça pontes, o deputado foi à luta.

O trabalho do ex-chefe da Casa Civil é basicamente voltado para o Exterior. Ao longo da vida política e no comando da Casa Civil, ele criou laços de amizade com diversos políticos latino-americanos e até mesmo com quadros republicanos dos Estados Unidos. [...]

Seus tentáculos atravessam o Atlântico e chegam a Portugal. Nos países que constam de sua agenda, Dirceu consegue abrir portas para seus clientes sem maiores dificuldades. Em junho, por exemplo, quando o presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, visitou o Brasil, fez questão que Dirceu participasse da reunião com a FIESP. No momento, a República Dominicana está investindo pesado na modernização de seus portos. E, com a ajuda de Dirceu, está atrás de empreiteiros experientes.

De todas as ligações de Dirceu, uma lhe rende excelentes frutos: a do bilionário Carlos Slim. Numa roda de amigos, José Dirceu contou que Slim, recentemente, lhe deu um conselho: “Zé, vem para o México e abre um escritório aqui. No dia seguinte mais de 30 empresários vão bater na sua porta. Todos pensam que você é meu conselheiro.” O ex-ministro reconhece que a amizade com Slim é preciosa. E, pelo mesmo motivo, também parou de negar que o empresário Eike Batista integre sua clientela. Dirceu também é procurado por empresas estrangeiras sediadas no Brasil, que sabem que ele tem informações de cocheira sobre o governo Lula. Não só porque foi o todo-poderoso da Casa Civil, mas porque mantém vínculos com todos os escalões do poder.

As atividades de Palocci e Gushiken têm menos visibilidade. O ex-ministro da Fazenda especializou-se em assessorar empresas com problemas financeiros e em dificuldades com o Fisco. Com a experiência que acumulou no comando da economia, Palocci ensina o caminho das pedras para os empresários que precisam reduzir os níveis de endividamento e soerguer seus empreendimentos. Palocci também tornou- se próximo de grandes grupos financeiros, que sempre aplaudiram o êxito de sua gestão no fortalecimento dos fundamentos da economia. No momento, o ex-ministro tenta ajudar o Bradesco a se manter como correspondente do Banco Postal. Faz o possível para quebrar as resistências do ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Quanto a Luiz Gushiken, sua tendência natural seria prestar consultoria na área de telefonia, pois, quando secretário de Comunicação, envolveu-se de corpo e alma na tumultuada – e até mesmo desleal – competição entre grupos nacionais e estrangeiros. Tornou-se inimigo mortal do empresário Daniel Dantas. E dá-se como certo, ainda hoje, que Gushiken tem forte influência no setor. O exemplo mais citado é o da Brasil Telecom, cuja direção, no entanto, nega vínculos com o ex-ministro.

Em sua passagem pelo governo Lula, Gushiken também teve em sua órbita os fundos de pensão. Há quem diga que, agora, como conseqüência dessa experiência, ele está prestando serviços a empresas que pretendem criar mecanismos de previdência complementar para seus funcionários. Seu escritório não só dá recomendações sobre o desenho dos fundos de pensão como se responsabiliza pelo cálculo atuarial, vital nesse tipo de investimento. Gushiken também seria consultor da companhia aérea BRA, que, em junho, encomendou 40 jatos à Embraer, controlada por fundos de pensão. [...]


10 comentários:

Cido disse...

Cristovão, sou Petista desde a sua fundação. mas sinceramente, não consigo perdoar o José Dirceu e seu pessoal.
Lamento,
Abs
Cido

Anônimo disse...

"J'ai rarement ouvert une porte par mégarde sans découvrir un spectacle qui me fît prendre l'humanité en pitié, en dégoût ou en horreur."


(Raramente tenho aberto uma porta por engano sem ter deparado com um espetáculo que me fez sentir pela humanidade compaixão, nojo ou horror.)

Anatole France (1844-1924)

Anônimo disse...

Não sou petista, apesar de sistematicamente votar nos candidatos desse partido, salvo em 1989 quando votei no velho Brizola, mas, o Dirceu continua tendo saldo positivo comigo - seu passado ainda pesa sobre as bobagens de hoje.

Anônimo disse...

Acho que falta um Adão Latorre no PT.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Ai, ai, Ai, Armando o que pode valer hoje as bagagens do passado? Que adianta Waldir Pires ser um "incorruptível" se sua gestão no gerenciamento do setor aéreo foi pífia e horrorosa? Que adianta Zé Dirceu ter sido um grande revolucionário se aderiu hoje a picaretagem? Esses fatos apenas demonstram o óbvio, a esquerda não detém o monopólio de nada.

Anônimo disse...

Agora, entende-se o porquê da ausência da militância nas ruas, desde 2002. Agora, percebe-se muitas coisas. O que mais dói, é que eles tavam c.. e andando pro Partido. Enquanto isto, na planície, milhares se privavam de momentos de lazer, de momentos com a família, para construir um Partido.

Anônimo disse...

De fato, é triste ver tais informações, no sentido em que há muito não se pode mais ser doutrinário. A doutrina já virou há muito moeda de troca...

Anônimo disse...

Antes era tráfico de influência, hoje é consultoria.E "testas de ferro" são CEOs.
Muda a linguagem - as moscas - mas a m.e.r.d.a. é a mesma.

Anônimo disse...

Está tudo cagado! Viva a revolução!

Anônimo disse...

Bernstein para Rosa possuía méritos, ao menos escrevia e debatia suas idéias. Agora não passam de meros dinheiristas e se escrevem são relatórios ou conversas ao pé do ouvido sobre onde melhor sacar o vil metal.

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